quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Nunca Mais Vou Usar Um Banheiro Público

Nunca Mais Vou Usar Um Banheiro Público

Antes de começar a contar essa história, tenho que dizer que sou uma jovem adulta diagnosticada com depressão psicótica e transtorno de ansiedade. Tive uma infância com muitas pedras no caminho, e meus anos de colégio foram gastos fazendo de tudo para não estar em casa.

Sou voluntária ocasional em um abrigo para pessoas sem-teto, vou quando posso. A pequena cidade em que moro não providencia muito para a população sem-teto, e eu achava que se eu não fizesse algo, não estaria fazendo nada de bom pela sociedade. Talvez isso fosse um tanto egoísta, de verdade, mas nunca me considerei uma boa pessoa.
Algumas pessoas de lá são extremamente educadas e fáceis de lidar, charmosas até. Fiz amizade com muita gente que passou por lá, sendo testemunha da volta por cima que deram vida. Mas sempre existe AQUELA galera. Os drogados, loucos, os que viveram sozinhos dentro do bosque por muito tempo. Aquelas divagações aleatórias e os olhos que se encaixam perfeitamente no vale a estranheza. Evitar esse tipo de pessoa é minha missão pessoal.

Era uma noite de sábado em agosto, por volta das 20h. Geralmente, albergues e abrigos fecham por volta das 18h, mas durante o verão fica aberto até mais tarde para acomodar melhor os voluntários que ainda estudam. Eu estava ajudando dois colegas voluntários, um garoto da minha idade e uma menina que devia estar no primeiro ano do ensino médio, a arrumar a cozinha.

 Eu fico muito ansiosa quando tenho que usar banheiros públicos, não por causa da limpeza ou algo do tipo.... Simplesmente é algo aleatório que me desencadeia ataques de pânico. Dito isso, eu não havia ido ao banheiro desde que saíra do meu apartamento de manhã, por volta das 10h, então provavelmente você entenda meu desespero. Tentando controlar minha ansiedade, pedi licença e fui em direção do WC feminino.

Agora, uma breve explicação. Esse abrigo foi construído em dois blocos separados. Para ir até o banheiro, você tem que sair da cozinha (uma sala pequena enfiada dentro de uma sala maior), e pela porta dessa sala até o corredor. O corredor é cheio de outras portas que dão para outras salinhas, e o chamamos de “o eixo”. Então você tem que atravessar todo o eixo, até o final. O banheiro feminino é a última porta a direita, e o masculino é a última a esquerda.

Você abre a porta do feminino, e verá um corredor longo. Diretamente no final deste corredor estão duas pias sujas, dois frascos de sabonete líquido entre elas, e um espelho acima de cada pia. Ao lado, existem quatro cabines com os vasos sanitários, o último sendo o maior, destinado a pessoas com deficiência física.

Então fiz todo esse processo. O banheiro parecia estar totalmente vazio, pelo o que podia ver. Mas notei algo estranho já desde o começo. As luzes de lá se acendem por detectores de movimento, então quando você abre a porta, elas se acendem automaticamente.

Mas já estavam acesas quando entrei.

Claro, isso não era COMPLETAMENTE estranho, considerando tudo. Era um banheiro público, claro, outras pessoas poderiam estar usando-o. Tentei ignorar minha ansiedade e fui em direção dos vasos sanitários.

O maior e que ficava por último estava fechado e trancado. E, da última vez que havia checado, eu e os outros dois voluntários éramos os únicos no prédio. Nesse momento, minha ansiedade estava lentamente se transformando em medo, então entrei na cabine que ficava mais afastada dessa outra.

Mas a tranca estava quebrada.

Me mudei para o outro do lado, e adivinhe só – a tranca também estava arrombada. O único que sobrava era o que estava grudado com a cabine trancada. Eu não queria, de jeito nenhum, usar aquela maldita cabine. Mas minha bexiga estava quase estourando, então eu seria obrigada a deixar aquela idiotice de lado e mijar de uma vez.

O mais rápido que consegui, entrei na cabine e fiz o que tinha de fazer. Quando o.... hm, “jato” começou, pude jurar que havia ouvido algo. Era um som muito sutil de… algo se mexendo. Tipo barulho de tecido se remexendo.

Terminei de fazer xixi e peguei o papel higiênico. Naquele momento, meu desconforto já havia triplicado e tudo que eu queria era sair daquela maldita cabine. Por um segundo, olhei para cima para, sei lá, conferir se ninguém estava olhando por cima da divisória, e depois olhei para baixo, para me levantar e colocar as calças.

Mas havia alguém com a cabeça enfiada ali, me olhando do chão.

Era um dos loucos que vinham para o abrigo. Eu o reconheci, pois ele havia elogiado meu cabelo roxo várias vezes. Dei um grito, chutando a porta da cabine e corri para a porta que nem uma louca fugindo de uma abelha, puxando minhas calças para cima enquanto corria.
E por mais estranho que pareça, posso jurar que eu ouvi um som de... chupar. Como um cachorro bebendo água do vaso sanitário.

Não preciso nem dizer que aquele foi meu último dia como voluntária naquele abrigo.

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